Retirar os saberes indígenas de seus contextos originais desvia a atenção das configurações locais em benefício do processo abstrato e aparentemente universal do capital e do Estado, tornando invisíveis as formas subalternas de pensar e os modos locais de configurar o mundo. O conhecimentoindígena se forma a partir das vivências diárias e se transforma através da prática contínua e da interação com contextos mais amplos.
A antropologia do conhecimento desafia a separação entre natureza e cultura, fundamental na epistemologia ocidental. Propõe que a cognição não é apenas a construção de representações mentais, mas uma experiência enraizada na interação histórica entre a mente e o mundo. A ideia de dupla corporeidade sugere que nosso conhecimento e existência estão interligados, e nossa prática de viver está acoplada a um mundo com regularidades biológicas e sociais.
Rejeitar a separação entre conhecimento e ação nos permite questionar dicotomias tradicionais e reconhecer a continuidade entre mente, corpo e mundo. É crucial para entender a relação entre seres vivos e espirituais nas culturas indígenas, onde os fenômenos “sobrenaturais” são integrados às relações sociais e ao meio ambiente de maneiras distintas das abordagens modernas.
Narrativas refinadas sobre a natureza podem libertar-nos da dualidade entre ser humano e natureza, criando novos paradigmas globais que oferecem respostas inovadoras para crises sociais e ambientais. É essencial interpretar mapas sociais e biológicos nativos em seus próprios termos, destacando a importância dos projetos extraescolares conduzidos por professores indígenas, que oferecem uma perspectiva interna e contextualizada da história e cultura indígenas.
Esses projetos promovem um valioso intercâmbio entre professores indígenas e não indígenas, valorizam uma abordagem intercultural e crítica. Seguindo a visão de Paulo Freire e Edgar Morin, é necessário colocar o conhecimento em contexto, estimular a curiosidade epistêmica dos alunos e cultivando-a nos professores.
A integração dos saberes indígenas no ensino de história não abandona as ciências ocidentais, mas promove um diálogo intercultural que fortalece o reconhecimento do direito ao território e à demarcação de terras indígenas. A Nova História Indígena reavalia a presença e a contribuição dos povos indígenas na história, reconhecendo-os como agentes históricos legítimos com suas próprias culturas e formas de resistência. Em resumo, reterritorializar o ensino de história indígena a partir de suas perspectivas contextualizadas permite valorizar e retomar seus conhecimentos e tradições.