A história dos povos indígenas é uma parte fundamental da história do Brasil, mas muitas vezes é negligenciada na educação básica. É crucial compreender que esses povos possuem suas próprias concepções de temporalidade, distintas das perspectivas ocidentais predominantes. Adotar essa abordagem permite uma nova compreensão da história e da cultura indígenas, priorizando suas narrativas e dialogando com as demandas do tempo presente.
Para superar a visão limitada de uma modernidade unidimensional, utilizamos os princípios da interculturalidade crítica, da decolonialidade e da transdisciplinaridade. Esses conceitos são ferramentas importantes para corrigir as distorções e apagamentos históricos presentes na educação básica em relação aos povos originários.
A interculturalidade crítica é um projeto político-epistêmico que valoriza as relações sem hierarquias entre diferentes saberes. Nessa perspectiva, as interações entre sociedades distintas devem ocorrer como uma resposta contra-hegemônica à dominação política do conhecimento. O objetivo é questionar e superar as desigualdades epistêmicas, promovendo um diálogo horizontal entre culturas.
A decolonialidade, por sua vez, baseia-se na ideia de que as sociedades colonizadas desenvolvem formas próprias de resistência, articuladas a partir de seus saberes, culturas e organizações sociais. A abordagem busca promover uma epistemologia e metodologia não-hegemônica, valorizando os conhecimentos, experiências e resistências das comunidades colonizadas e subalternizadas (Walsh, 2007).
A transdisciplinaridade envolve a busca por uma compreensão mais ampla e integrada da realidade, superando as limitações epistemológicas e metodológicas das disciplinas acadêmicas convencionais. Promove a interação entre diferentes saberes, experiências e perspectivas, visando criar soluções mais eficazes e inovadoras para problemas complexos. No contexto do ensino da história indígena, a transdisciplinaridade permite a incorporação de saberes tradicionais e perspectivas indígenas, além de fomentar o diálogo com outras disciplinas, como antropologia, arqueologia e história oral.
Esses referenciais serão articulados com a produção de saberes indígenas desenvolvidos nas pesquisas dos professores e alunos do Comitê Javaé da Licenciatura Intercultural Indígena Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena (NTFSI) da Universidade Federal de Goiás (UFG), em conjunto com os recursos historiográficos apresentados pela Nova História Indígena.
A integração dos princípios de interculturalidade crítica, decolonialidade e transdisciplinaridade na educação e pesquisa sobre a história indígena do Brasil representa um avanço significativo na correção das distorções e apagamentos históricos. Ao valorizar os saberes e narrativas dos povos originários, e promover um diálogo horizontal entre diferentes culturas e disciplinas, podemos construir uma compreensão mais ampla e inclusiva da história.