Discutir questões relacionadas aos povos indígenas sem considerar seus conhecimentos ancestrais e o protagonismo na produção intelectual pode levar à caricatura e folclorização. Uma abordagem descontextualizada de seus saberes, que muitas vezes são vistos como "exóticos", resulta numa visão estereotipada denunciada pelo historiador John Monteiro. Ele destaca que a história e os historiadores frequentemente retratam os indígenas como figuras de um passado imutável, ignorando a complexidade e diversidade dessas sociedades.
As ciências sociais muitas vezes observam categorias em vez de pessoas, o que perpetua visões distorcidas e preconceituosas sobre os indígenas, especialmente aqueles que vivem fora das aldeias, estão em processo de retomada ou utilizam tecnologias modernas. Aquilo que desafia o imaginário exótico da sociedade, como indígenas usando celulares, é frequentemente usado para questionar sua autenticidade e direitos territoriais.
Essa interpretação essencialista da cultura – que vê a identidade indígena como fixa e imutável – leva a atitudes preconceituosas, como perguntar a um indígena sobre antropofagia, pedir que realizem rituais fora de contexto ou fazer piadas sobre sua fluência em português. Tais generalizações sublinham a necessidade de abordar a questão indígena de forma contextualizada.
O pensamento estruturalista, influente em diversas áreas, também contribuiu para essas percepções. A antropologia estruturalista, exemplificada por Lévi-Strauss, foca nas estruturas inconscientes que organizam a cultura e a sociedade, em vez das ações dos indivíduos. Lévi-Strauss classificou as sociedades indígenas como "frias", ou seja, estáveis e imutáveis ao longo do tempo, em contraste com as "sociedades quentes" que promovem mudanças rápidas e progresso . A visão desconsidera a capacidade dos povos indígenas de adaptação, inovação e interação dinâmica com outras culturas.
Essa perspectiva ainda influencia a abordagem da história e cultura indígena na educação básica, que muitas vezes utiliza referenciais teóricos ocidentais para analisar sociedades com epistemologias próprias. No ensino de história, a abordagem essencialista desvaloriza a complexidade e a contemporaneidade das culturas indígenas, ignora suas contribuições e capacidades de negociação e resistência.
A Didática da História, promovida por Jörn Rüsen, valoriza o papel social da história na educação, mas ainda separa a ciência histórica especializada de sua aplicação prática. Narrativas indígenas, que não seguem os critérios metodológicos ocidentais, são frequentemente classificadas como "mitos". Embora estudos antropológicos mostrem que essas narrativas são fundamentais para a organização e aprendizagem dos povos indígenas, elas são marginalizadas no ensino de história, sendo relegadas a fábulas e contos infantis.
Narrativas indígenas são desvalorizadas em favor das que seguem o rigor metodológico ocidental, o que resulta na exclusão das perspectivas e saberes indígenas. Para uma compreensão mais justa e ampla, é necessário abordar a questão indígena com respeito à sua contextualidade e valorização de sua produção intelectual própria.