Os Javaé vivem na Ilha do Bananal, localizada no estado do Tocantins, uma região onde os rios Araguaia e Javaés se encontram. Este povo possui uma longa história de ocupação da área, embora seja difícil determinar exatamente há quanto tempo residem ali. Segundo estimativas, sua presença na região do médio Araguaia e na Ilha do Bananal data de pelo menos quatro séculos.
A Ilha do Bananal situa-se entre os biomas amazônico e cerrado. A leste da ilha está o rio Javaés, enquanto a oeste fica o rio Araguaia, que delimita a fronteira com o Mato Grosso. A ilha está dividida entre terras indígenas dos Javaé, Karajá, e o Parque Nacional do Araguaia. As condições climáticas da região se dividem em duas estações principais: o verão, que é seco de junho a setembro, e o inverno, chuvoso de outubro a maio.
Os Javaé vivem no interior da ilha e nas margens do rio Javaés, enquanto os Karajá habitam as margens do rio Araguaia e os Xambioá ocupam o norte da Ilha. Os grupos compartilham a língua Inỹ Rybè, do tronco linguístico Macro Jê, e se identificam coletivamente como Iny. No entanto, existem diferenças culturais e linguísticas entre eles (Pin, 2014). Historicamente, os Javaé foram muitas vezes considerados um subgrupo dos Karajá, mas eles se reconhecem como Berò Biawa Mahadu ("amigos do rio").
Os primeiros registros oficiais sobre os Javaé datam de 1775, durante a administração colonial portuguesa. Os Javaé adotaram uma postura isolacionista em 1811 para proteger seus territórios e evitar epidemias. O isolamento contribuiu para a interpretação errônea de que eram um subgrupo dos Karajá. A reabertura gradual ao contato com não indígenas começou no século XX, devido à expansão das pastagens e incursões de órgãos como o Serviço de Proteção dos Índios (SPI) e a Fundação Nacional dos Povos Originários (FUNAI).
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Atualmente, os Javaé estão engajados em visibilizar aspectos de sua cultura, história e cosmologia. Pesquisas contemporâneas, especialmente aquelas conduzidas por autores indígenas, como do Comitê Javaé, têm sido fundamentais para corrigir a falta de documentação e para destacar a relevância dos saberes indígenas. “As lideranças Javaé desenvolvem políticas de visibilização dos vários aspectos culturais, sociais, linguísticos e cosmológicos de seu povo e de sua história nos meios acadêmicos, sociais e políticos brasileiros” (Araújo, Nazareno, 2022, p. 29).
A maneira como os Javaé foram retratados historicamente na literatura colonial e, posteriormente, nos estudos etnográficos, como sendo um subgrupo dos Karajá, é resultado de uma categorização hierárquica e taxonômica. Embora essas representações possam conter informações úteis para a luta dos Javaé, é crucial que sejam analisadas sob uma perspectiva intercultural crítica e decolonial, que valorize as estratégias de resistência e autodeterminação dos Javaé tanto no meio acadêmico quanto nas esferas política e social.
Uma análise crítica e transdisciplinar de registros de viagens e outros documentos, assim como do "isolamento voluntário" dos Javaé, revela como a sociedade dominante impôs modelos hierarquizados de sociedade e natureza, baseados em teorias universalizantes e iluministas. Em resposta a essas interpretações, os Javaé se organizam politicamente e academicamente para contestar essas visões, reafirmando sua identidade própria, que é reconhecida e garantida pela constituição de 1988, por meio de suas histórias e relação ancestral com seu território, demonstrando seu protagonismo.
Material de apoio: “ISOLAMENTO VOLUNTÁRIO”E PROTAGONISMO DO POVO JAVAÉ,DA ILHA DO BANANAL,ATUAL ESTADO DO TOCANTINS-BRASIL (1896-1923)
A Nova História Indígena, junto com a decolonialidade e interculturalidade crítica, permite que os Javaé sejam reconhecidos como protagonistas de sua própria história. A migração dos Javaé para um contato mais constante com não indígenas no século XX trouxe desafios, mas também fortaleceu sua identidade e reivindicações.
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Os Javaé se veem como "criadores dos Karajá" e destacam uma convivência histórica pacífica, apesar de conflitos ocasionais. Pesquisas acadêmicas e iniciativas de estudantes Javaé e Karajá têm contribuído para aumentar a visibilidade e garantir os direitos dos Javaé. A "retomada" é vista como uma prática decolonial que apoia a causa Javaé, destacando a importância de suas narrativas e direitos territoriais.